Inglês: a minha história
Essa é uma das perguntas que eu mais recebo pelas redes sociais do blog: "Eu preciso saber falar QUANTO de inglês pra ir pro Canadá?"
Gente, deixa eu contar pra vocês uma coisa que ninguém me falou com sinceridade... Você precisa SIM saber falar inglês pra morar fora e ter o mínimo de dignidade. Parem de achar que é conto de fadas, que todo mundo vai te ajudar e que em 3 meses você vai ser fluente. Não vai, estão te mentindo.
Talvez no início, as pessoas ainda tenham mais paciência, 3 meses depois ninguém aguenta mais te traduzir tudo e te ajudar. Você não consegue um trabalho que pague melhor, você não tem uma boa experiência num restaurante, numa loja, consultório médico, hospital, escola das crianças se você vier com eles. Simples assim. Sem inglês você vive uma vida pela metade aqui e a frustração é grande aliada para a "não-adaptação".
A primeira vez que eu me dei conta disso foi em 2012 quando viajei pra Israel para um programa da minha Sinagoga em Porto Alegre - Taglit. Conheci gente do Brasil todo. Não consegui conhecer gente do mundo todo porque eu não falava inglês e não conseguia estabelecer uma conversa... to sento bem otimista, na verdade eu não entendia absolutamente nada. Eu entendia mais hebraico do que o inglês - pra vocês terem uma ideia. 8 anos atrás era um caos.
A viagem foi muito legal, conheci lugares lindos, uma cultura rica em detalhes. Mas eu tenho certeza que se eu soubesse inglês teria sido muito mais legal e a minha experiência teria sido bem diferente. A minha sorte foi ter alguém que me ajudou o tempo todo - todo meu amor pela Diana, minha amigona de curitiba que traduziu tudo pra mim (eu imagino a chatisse que deve ter sido pra ela).
No ano seguinte, em 2013, fui viajar para os EUA pela primeira vez - fomos para San Francisco, Califórnia. Eu e o Fernando. Ele estava a trabalho e eu fiquei 5 semanas passeando. Eu tenho tanta história pra contar dessas 5 semanas. Eu não tinha celular na época - tinha quebrado na viagem e eu não tinha $ ou interesse de comprar um novo. Sim - quem diria né?! haha
Eu andava com um bilhete na carteira dizendo: "I'm lost. I don't speak English AT ALL. Can you please call my husband and let him know where am I so he could pick me up? Thank you. My name is Mariana." QUE VERGONHA andar com aquilo. Aí vocês me perguntam: "Precisou usar?".... SIM! Nem vou continuar essa história porque me dá vontade de chorar.
Eu me lembro da primeira vez que entrei em um McDonalds para tentar comprar um Big Mac. Caos total, mas deu certo. Eu passei 5 semanas almoçando praticamente todos os dias lá porque tinha medo e vergonha de ir em outros lugares pedir comida. Só comia bem quando o Fernando estava comigo.
Voltei para o Brasil cheia de compras - lingua oficial do consumista né, para quê inglês se eu tinha dólar? haha Com várias histórias hilárias para contar, fotos dos lugares que eu conheci e as coisas que o Fernando me explicava. Só. Que viagem pela metade meu deus. Conheci boa parte da Califórnia, sem de fato conhecer alguma coisa.
Resolvi que ia estudar inglês para poder aproveitar melhor esses momentos. Desde o colégio esse era um sonho que eu era muito preguiçosa para conquistar. Até hoje eu agradeço a Ingrid minha amiga por ter me passado em inglês. Eu não aprendia nada - apenas uma música que eu nunca esqueci: "I'm Stan Mckenn, I'm business man. Good morning Stan, Good morning!" O Inglês era uma jornada perdida pra mim.
Obvio que não fui em frente e segui trabalhando para pagar todas as compras que eu havia feito nos EUA porque era só o que eu sabia fazer - contar dinheiro. Eis que em 2013 mesmo, Fernando me diz que vai ser transferido para os EUA e que teríamos que ir morar lá.
Meus butiá saíram rolando do bolso né (cadê os meus leitores gaúchos ai?!). Fernando disse que eu precisaria me matricular em uma escola de inglês em tempo integral e que eu tinha que aprender - afinal de contas esse era o primeiro passo para irmos embora do Brasil do vez. Na minha cabeça eu só pensava: "meu deus socorro me ajuda por favor eu não sei o que eu to fazendo e eu não sei se eu quero isso".
2014 fui morar em San Francisco na Califórnia. Me matriculei em uma escola privada de inglês - gastamos um bom dinheiro ali, e eu comecei a entender porque eu precisava daquilo. As primeiras semanas foram super difíceis - conheci vários brasileiros que me ajudaram muito - fiz amizade com uma chinesa e uma russa. Com aquele inglês capenga mesmo eu saí para explorar a cidade, entender as histórias de todo mundo e conhecer aquele mundo novo.
Eu tive uma grande parceira nessa jornada: A Bruna - minha amiga que mora em Seattle. Ela me ensinava, me corrigia, me explicava e tinha muita paciência em me ajudar. Obrigada Bru! A gente se encontrava quase todos os dias de tarde e de noite, fins de semana. Éramos vizinha de porta mas não estudávamos na mesma escola e isso foi muito bom, porque eu tive que me virar.
Aquele ano em San Francisco, foi um dos melhores anos da minha vida. Minha irmã, uma amiga e minha sogra foram nos visitar, passeamos muito e eu ficava super orgulhosa de mostrar o que eu já havia aprendido. E era chocante pra quem me conhecia mesmo haha
Voltei de San Francisco com um ouvido bem afinado. Eu aprendi a ouvir e entender o inglês. Mas a fala ainda era o meu maior problema. Conversar, explicar, vocabulário. Era super difícil. Quando eu bolava tudo na minha cabeça para falar, a conversa já tinha passado e eu tinha perdido o contexto. Era muito frustrante. Mas eu já tava feliz só de entender as piadas (uns minutos depois, mas eu entendia!).
No Brasil segui trabalhando por mais alguns meses até que tivemos que decidir entre voltar para San Francisco ou vir para Calgary. Dúvida cruel, óbvio que SF ganhava em todos os quesitos. Mas Fernando gostava mais da ideia de trabalhar e viver no Canadá. Comecei a estudar a cidade, o país, entender forma de governo, política, saúde pública e a educação. Não tive dúvidas de onde eu queria estar depois disso.
Viemos em 2015 fazer nossa viagem exploratória - e eu com aquele inglês capenga! Confesso que foi super difícil, o inglês é "mais fechado", a pronúncia é mais parecida com o inglês britânico do que com o americano. Mas foi bom ver que meu ouvido funcionava ok ainda. Conversas mesmo, só com quem tinha paciência de falar sozinho, porque eu só ouvia e ria. Complicado.
Decidi em 2015 que era hora de perder o medo. Já havíamos decidido que moraríamos aqui e estávamos no Brasil só esperando os nossos vistos de trabalho. Fechei meu escritório de advocacia e me dediquei 100% do tempo - durante todo o ano de 2015, para estudar inglês.
Contratei uma professora particular, tinha aulas em casa 4x por semana e alguns sábados, focamos em conversação e em me ensinar o que eu precisava saber. Como fazer entrevista de trabalho, como mandar e-mails, conversas de dia-a-dia, me apresentar. No período da tarde eu ia 3x por semana pra TopWay, um curso de inglês focado em conversação em Porto Alegre e foi lá que eu me dei conta de que eu conseguia falar inglês.
Fui passar 28 dias nos EUA na casa da Bruna - que eu contei antes que mora em Seattle - e foi uma viagem muito mais legal. Mais divertida para mim. Eu não era mais uma perdida por lá. Mas era turismo.
Aí eu cheguei em Calgary e vi que o furo era bem mais embaixo. Eu já tinha mais experiência, já entendia tudo que me falavam. Mas não era o suficiente. VIVER em inglês é diferente de fazer turismo em inglês. A gramática não era o mais importante. Faltava vocabulário, faltava conhecimento, faltava fluidez. Meu inglês era muito formal e desenhado.
Eu resolvi fazer um curso na Universidade de Calgary para imigrantes. Eu odiei. Era mais gramática, mais formalidade. Não era o que eu queria. Aí eu me dei conta de que eu precisava viver pra aprender. Arranjei meu primeiro trabalho de Nanny - babá!
Nesse post eu conto um pouco sobre esse primeiro emprego aqui no Canadá.
Depois desse emprego tudo mudou. A Juliana, mãe do bebê que eu trabalhava, era super querida. Sempre me ensinava várias coisas, me explicava tudo com muita calma. E me dava muitas dicas. A partir daí eu comecei a aprender o inglês informal, do dia a dia, da conversa, das piadas, das gírias. Eu aprendia todo o dia uma coisa nova com o gurizinho que eu tomava conta, era demais!
Comecei então a ver TV apenas em inglês com legendas em inglês, jornal, seriados, filmes, notícias. Deixei pra acompanhar as notícias em português só nos fins de semana. Durante a semana eu vivia em inglês. Trabalhava, pegava ônibus, ia pra bar, restaurante - aquela vidinha mais ou menos sem filhos que é maravilhosa haha
Eu trabalhei com eles por 1 ano. Nesse meio tempo engravidei da Beatrice e começaram as rotinas de consultas médicas, tentar entender tudo que me diziam. Tive médicos brasileiros e confesso que hoje vejo o quanto era desnecessário. Fui para o hospital, tirei apêndice, conversei com cirurgião... Nesse momento aqui meu inglês era bem limitado, mas já tinha mais vocabulário, fluidez, pouca timidez. A Beatrice nasceu e quando ela tinha 2 meses eu fui fazer o LINC, programa que o governo oferece para imigrantes que viram residentes permanentes no país.
O programa foi super legal, estudei por 5 meses e aprendi muita coisa. Fiz vários amigos também. Quando a Beatrice foi pra escola, eu comecei a procurar emprego novamente. E foi aí que meu inglês deslanchou.
Trabalhando todos os dias em inglês, aprendendo todos os dias, mas em constante contato com a língua. Foi isso que me fez aprender e perder a vergonha. Eu fui promovida no emprego a Manager, conseguia me comunicar e era maravilhoso.
Saí de lá e fui para o meu terceiro emprego aqui no Canadá, que é onde eu estou até hoje. E o que eu posso contar para vocês sobre essa jornada?
Ela é muito difícil e quando eu olho hoje eu não consigo acreditar que eu falo inglês. Minha vida é inglês, trabalho, escola da Beatrice, as conversas com as amigas... é mais fácil falar em inglês algumas coisas do que em português. Porque a gente se acostuma mesmo. É normal.
Eu escuto inglês hoje e é tão normal que eu não percebo mais se alguém está falando inglês ou português comigo, é exatamente igual. Eu ainda tenho muita coisa pra aprender, nunca vou falar inglês como um nativo - mas eu falo duas línguas! E vocês provavelmente também falam ou irão falar.
Eu tinha muita vergonha do meu inglês - confesso que até hoje me sinto um pouco intimidada quando brasileiros perto de mim falam extremamente bem, porque a gente está sempre achando que as pessoas estão nos julgando. E na verdade as únicas pessoas que estão de fato nos julgando somos nós mesmos.
Hoje depois de quase 5 anos morando em Calgary, eu aprendi que a gente precisa se acolher e nunca se colocar pra baixo. Eu sempre ouço das minhas amigas canadenses: "Mariana tu fala duas línguas! Provavelmente tua gramática é melhor que a minha" e eles não estão errados não viu.
Aprenda a falar inglês, se dedique pra que você possa conquistar mais sonhos e não precise viver pela metade! Falar inglês no Brasil é uma coisa, falar inglês nos EUA a turismo é outra... falar inglês morando no Canadá (ou fora em geral) é outra completamente diferente!
Não se deixe abater, todo mundo erra, todo mundo fala palavras com pronúncia errada - mas aprenda com os seus erros, procure se informar sobre a forma correta e tente exercitar todos os dias. Não fale inglês com a pronúncia "abrasileirada". Se a palavra é completamente diferente quando você está falando inglês, utilize-a no contexto em português também.
E o mais importante - ESTUDE! Se você quer falar inglês, você precisa estudar. Ponto final. Não tem meio caminho aqui. Pratique, leia em inglês, procure legendas em inglês. Vá ao cinema (quando a pandemia permitir), leia as notícias do que está acontecendo a sua volta e no mundo - em inglês! Ouça músicas, procure as letras, traduza, tente entender os contextos.
Hoje quando eu escuto algumas músicas, eu fico chocada com os significados haha Ir ao banco, ao mercado, escola, universidade, entrevista de emprego, resolver qualquer problema em inglês hoje já não é mais um problema... E é LIBERTADOR.
Eu ainda sofro, tenho minhas próprias batalhas com o inglês, mas a gente não pode deixar o medo de tentar nos paralisar.
Espero que vocês tenham gostado de ler um pouco sobre a minha história aqui e espero que vocês tenham sucesso com as suas próprias jornadas no inglês!
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